sexta-feira, 2 de novembro de 2018













                                                Ah! eternidade, existis, dizei-me vós. Ansioso, por saber, estou. Se verdade, dizei-me, então,  por que estais sempre a crescer? Se cresceis, não sois eterno, tivestes um começo. Oh, Espaçotempo deixai-me cavalgar nos teus cabelos.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018













                                 Sabe que não me lembro? Ia trabalhar. Andava despreocupadamente, tinha tempo para chegar ao trabalho. Saíra muito cedo de casa.  Olhava as pessoas, a paisagem, os prédios, a caminho do Wimpy Bar, embalado por uma canção qualquer, porque ainda não conhecia o danzon nº 2 de Arturo Marquez, posto que só em 1994 viera o maestro, por encomenda da Universidade Autônoma do México, compor este danzón. Nem sei porque estou falando do danzón, eu nem sabia da existência desta dança cubana, na qual ele se inspirou para compor sua obra.Nem sei qual versão eu mais gosto. A de Gustavo Dudamel, não sei se porque a foi a primeira que ouvi, me parece imponente, rica, na melodia, no compasso, em tudo.  Na época, reinavam os Beatles, de cujas canções, eu, ingenuamente, fazia restrições. Foi justamente quando percebi as pessoas correndo feito loucas todos na mesma direção. Eu também corri, mas sem saber o que estava acontecendo. São os Beatles, me disse alguém. Não consegui ver a cara de nenhum deles que estavam entrando em sua loja na Baker Street. Como fui estúpido. Na escola, os professores malhavam seus conterrâneos. Sujos, aqueles cabelos que nunca lavam. Depois, aquilo não é música, é barulho.

sábado, 8 de setembro de 2018












                           
                              Que nome darás à tua paixão por Purcell? Henry Purcell da Dido e Enéas? Terás tu a visto em tua estadia naquelas,  terras de tão comum nevoeiro? O que te restou da terra de Shakespeare? Tua paixão pelo bardo, continua o mesmo? Ainda segues os passos de Hamlet na escuridão? Inda ouves os gritos das feiticeiras no Macbeth, surgindo do fundo do teatro, andando e assustando a plateia? O bem e o mal é tudo igual, o Belo é feio, o feio é belo. Deus e o Diabo tudo igual.
                           - Oh, céus! quem são estas figuras disforme, dizei-me vós.
                           - Viva Macbeth, nós te saudamos, thane de Glamis, thane de Caudor, que será nosso rei!
                                 - Para longe, oradoras imperfeitas, não quero ouvir estas saudações proféticas?
                            - Gerarás reis, embora tu não seja, Viva Macbeth.
                                    - Sumiram, onde foram parar, querido Banquo?
                                    - No ar, tudo parecia tão corpóreo! Oh tivessem demorado mais um pouco.
                                   - Teriam estado aqui mesmo, ou comemos da raíz que aprisiona a razão?

quarta-feira, 5 de setembro de 2018













                                         Há fatos ou pedaços de nossa vida que a gente guarda até o túmulo, outros, a gente esquece e por mais que façamos esforço para relembrar, não se recorda. Caiu na vala do esquecimento. Foi o que aconteceu com minha chegada a Londres. É tudo tão nebuloso, parece que o fog londrino tomou tudo de assalto, e tudo fica longe que a memória não alcança. Não quero discorrer aqui sobre a memória ou coisa parecida. Não é um ensaio ou uma tese para a Oxford, apenas dizer que Londres me envolveu no seu fog e eu me perdi por muito tempo. Sei que era uma manhã primaveril e que a cidade se preparava para a Copa do Mundo, quando foi campeã e assistiu o brilho de Eusébio, um angolano jogando por Portugal. 

segunda-feira, 3 de setembro de 2018














                                                        Escrever diretamente no computador tem suas vantagens, mas às vezes as vantagens são superadas pelas desvantagens. Imaginem que agora, depois de ter escrito uma página quase inteira, toquei inadvertidamente em alguma tecla que apagou tudo o que já tinha escrito. É de lenhar. Difícil é dizer o mesmo que se disse antes, e como não tou afim de encher meu saco, vou escrevendo o que me ocorrer, sem me preocupar com o que tinha dito. E para me assegurar de que não acontecer a mesma coisa vou logo salvando a merda escrita para que não resvale novamente para o esgoto. Não mais se preocupar com historinhas, enredos, entrechos, trama ou mais que se queira dar o nome, tampouco com personagens isto ou aquilo. Chamem-no do que quiser. É o escrito e pronto.

sexta-feira, 31 de agosto de 2018













                                Logo, logo estava trabalhando. Era fácil arranjar trabalho em Londres. Você conseguia trabalho até de uma hora por dia. Para quem estudava era ótimo. Acho que foi no Golden Egg o meu primeiro emprego, ora penso que fora no Wimpy Bar. Não consigo me lembrar comecei. Em ambos, sei, fazia hamburgeres e outra iguarias. Inglês não tem a mesma finesse no comer. Comem qualquer porcaria, apesar de que, algumas de suas porcarias eram muito gostosas. 

quarta-feira, 29 de agosto de 2018














                                     Jussiê não estava lá quando cheguei, mas o senhorio já sabia que eu vinha e estava me esperando. Um polonês simpático e até de certa forma conversador. Ele me disse que Jussiê tinha ido para a Escola, onde estudava inglês, a mesma que eu iria estudar, nas primeiras semanas em Londres. Como disse, não estava frio, o clima ameno de primavera. Ele mostrou o quarto, explicou como usar o aquecedor. que movido a gaz e disse mais  algumas regras da casa e me entregou a chave do quarto.

segunda-feira, 27 de agosto de 2018













                                    A viagem, enfadonha. Pegara o trem na Gare de Nord em Paris até Calais. Aí entrar no ferry-boat, não havia o eurotunel. Cansativo, o ferry leva quase quase três horas para atravessar o canal da Mancha. Tinha sono, queria encontrar um jeito de dormir. Aconchegar-me numa cadeira, mas o balanço do mar não deixava. Além do mais, havia um grupo de brasileiros fazendo zoada. Incrível, onde tem brasileiro tem zoada. Gostam de aparecer. Não se importam com o olhar de reprovação das pessoas. Havia um que se dizia, físico, baixinho, magrinho, cabelo quase carapinha. Ele ficava o tempo todo fazendo trocadilho da nossa expressão, qual é, com a palavra Calais. Eu já estava de saco cheio, mas tive de suportá-lo até Dover, quando pegamos de novo o trem para Londres e graças a Deus, não mais o vi. Nem me ficou na memória o seu nome. 

domingo, 26 de agosto de 2018













                                        O pequeno Richard devia ter 8 anos talvez. O pai era polonês, fugido da guerra, a segunda, talvez judeu, não sei, nunca me disse. Richard falava polonês com o pai. A mãe era espanhola. Ele falava espanhol com a mãe. Com as demais pessoas falava inglês. Um dia ele me viu falando espanhol com a mãe. Ah, usted habla español? Nunca mais falou inglês comigo, só espanhol, mesmo que tenha eu pedido que falasse inglês, afinal estava ali para aprender o inglês. Não, só me falava em espanhol. 

quinta-feira, 23 de agosto de 2018











                     
                                        Era uma manhã primaveril quando cheguei à  rua Perham Road, 54, Hammersmith, London, 14, 9SS, Reino Unido. eles gostam assim: Reino Unido, mais que Inglaterra. Acham que dá um ar de nobreza, porque inglês come e caga nobreza e fofocas. O polonês me recebeu. Jussieu estava na escola. Morto de cansado. Calais me havia matado. E logo me levou o polaco ao quarto que me havia reservado. Tomar um banho e dormir. Colocar uma moeda no aquecedor.

quarta-feira, 22 de agosto de 2018













                                Dizer não é dizer. Por mais que digamos palavras já ditas, que criemos outras nunca ditas, não conseguiremos dizer o que realmente sentimos. Nisto, acho, o pintor leva a dianteira, às vezes, com um simples traço diz mais do que todas palavras do mundo. E que dizer da música? Quem seria capaz de expressar, efetivamente, todo o sentimento contido no Requiem de Mozart? A música é a mais linda das artes e ao mesmo tempo a mais fácil de se divulgar porque não se precisa entende-la, apenas gostar.

PREFÁCIO













                                         

                         Que fazer neste prefácio? Digo o que vou escrever? Como escrevi? Digo que é um romance e falo dos personagens? Do enredo? Como? Nem sei se será um romance, se terá personagens, história, entrecho ou enredo. Contrariamente a schopenhauer nem sei mesmo o que vou escrever. Uma coisa é certa: Se for romance, ele nunca será na forma de um Balzac, embora não acredite que seja tampouco na forma do nouveau roman. Logo, melhor ficar calado e deixar que vocês naveguem nestas páginas e descubram cada um de  sua maneira, o que nelas vai escrito e não escrito, posto que sabemos,  o mais que se diz não está escrito.